Tuesday, July 29, 2014

Poesie






Poesie


Es ist ein Hell-Dunkel und
man kann nur nach vorne gehen
nicht zurück
nicht zur Seite
die Möglichkeiten sind wie nur
auf diese eine Richtung konzentriert
wie ein Schicksal und ein Bestimmungsort
Mit offenen-geschlossenen Augen
verzweifelt-hoffnungsvoll versuchen wir
uns an das Heilig-Nüchterne zu erinnern
und einen Ort zu finden
aus dem heraus man wieder sehen könnte
Wir folgen einer zutiefst verinnerlichten Musik
die jetzt im Reich des Vergessenen liegt
auch wenn manche glauben, uns in der
Erscheinungsform zu erkennen
Wir schweben durch die Luft
langsam als bewegten wir uns kaum
wir schwimmen und gleiten
mit fließenden Bewegungen
nach vorne
Als wäre es eine einzige Bestimmung
als gäbe es eine Richtung nach Hause
die man kaum noch in Träumen finden kann


Imagem: Gustav Klimt, Beethovenfries: Die Poesie, 1902 (Klimt dedicou esta sua obra, que se encontra na Sezession em Viena de Áustria, à 9ª Sinfonia de Ludwig van Beethoven)

Créditos da imagem: accesswave.ca

Intertextualidades: Friedrich Hölderlin; Evgeny Evtuchenko, "People"
(24 de Maio de 2013)
Recuperamos hoje aqui um post de Maio de 2013 

Sunday, February 16, 2014

Sobreposições

 
  

 
A Igreja de S. Paulo, mais conhecida como Igreja da Universidade ou Paulinerkirche de Leipzig, datava do séc. XIII (1231) e foi dinamitada em 1968
 
 
 
 
O escultor Klaus Schwabe – um dos três autores do baixo-relevo – observa a desmontagem do monumento “Aufbruch” (“Avanço”). O relevo em bronze encontra-se desde 2008 na Faculdade de Desporto (Campus Jahnallee) em Leipzig

 

Desde 2 de Dezembro de 2011, a nova face da Universidade na Praça de Augusto em Leipzig


Sobreposições


       Tal como a memória ou um texto, a cidade tem múltiplas sobreposições. Camada sobre camada que foi sendo sobreposta pelo tempo, os projectos dos homens e o acaso, e que é possível ler num determinado momento. Por exemplo, Leipzig em Novembro de 2009. Vinte anos depois da “revolução pacífica”, os acontecimentos que anteciparam a Queda do Muro de Berlim. Antes disso, quase quarenta anos de pertença à República Democrática Alemã e ainda antes, a Segunda Grande Guerra e os tempos do nacional-socialismo. Uma cidade de muitas memórias, de grandes mutações, de sacrifício e sofrimento, espelhando afinal a história da Alemanha e até da Europa.

       Percorro as ruas e registo, como num filme, algumas dessas sobreposições que vemos no espaço e lemos no tempo. Perto da estação de caminho-de-ferro, o exemplo talvez mais visual - a “caixa de lata” (“Blechbüchse”), uma fachada de metal sem janelas. O edifício de 1964-66 de oito andares albergou os maiores e mais modernos armazéns da RDA, hoje sob protecção patrimonial. Em 1914, no mesmo lugar estavam os armazéns Brühl e, um século antes, em 1813, a casa onde nasceu Richard Wagner. A recuperação do edifício, hoje desactivado, deverá respeitar a fachada dos anos sessenta, bem como conservar a placa de bronze do escultor lípsio Fritz Zalisz, dos tempos dos armazéns Brühl, recordando o local onde nasceu Wagner.

        A rua mais movimentada da cidade, palco de inúmeros cortejos e manifestações, centro boémio e cena alternativa, é a “Karl-Liebknecht-Strasse”, onde viveu o fundador do KPD (Partido Comunista da Alemanha), na casa que hoje tem o nº 69. De 1874 a 1933, chamou-se ”Südstrasse”. De 1933 a 18 de Maio de 1945, “Adolf-Hitler-Strasse”. A 1 de Agosto de 1945, recebe o nome de “Karl-Liebknecht-Strasse”,  que ainda hoje conserva.  Depois da Queda do Muro, poderia ter passado a chamar-se “Strasse des 17. Juni”, recordando as greves, demonstrações e protestos de 1953, mas a população de Leipzig não quis,  e chama hoje com ironia à rua “Adolf-Südknecht-Str.”, ou com afecto simplesmente “Karli”.

       Perto do “Gewandhaus” e da Universidade, havia nos anos sessenta um enorme monte de entulho, em parte resultado das ruínas de uma escola feminina, “St. Annen-Schule”, depois de destruída em 1943 por uma bomba durante a Segunda Grande Guerra, que um grupo de estudantes – entre os quais a actual chanceler alemã, Angela Merkel – em boa hora resolveu limpar, à procura de instalações adequadas para um clube de estudantes.  Nessa tarefa, descobriram ruínas da antiga muralha da cidade, que hoje em dia albergam um café e restaurante, a “Moritzbastei”, com o mesmo nome da muralha medieval. Fórum de encontros culturais, mais de 200.000 visitantes por ano gozam da atmosfera única das arcadas medievais que albergam espectáculos de rock, jazz, teatro, filme ou leituras.

       O último exemplo de sobreposição é também o mais conturbado e radical: a “Paulinerkirche”. Consagrada em 1240 por monges dominicanos, a história desta igreja confunde-se com a da Universidade de Leipzig, a partir da sua fundação em 1409. Após a Reforma, é consagrada como igreja universitária por Lutero, com a dupla função de espaço religioso e aula para festividades académicas. Depois de modificações arquitectónicas importantes durante o séc. XIX, a igreja sobrevive ao bombardeamento de 4 de Dezembro de 1943. Mas, depois do fim da guerra, o governo da RDA pensa que a praça principal da cidade deveria ser o cartão de visita de uma metrópole socialista e decide demolir a igreja, apesar dos protestos da população, e a igreja antiquíssima e intacta é dinamitada a 30 de Maio de 1968. Seguiram-se mais protestos, nomeadamente por ocasião do 3º Concurso Internacional de Bach. Em 1974, foi colocado em seu lugar uma gigantesca escultura de bronze, intitulada “Aufbruch”, “Avanço”, representando a cabeça de Marx. Este baixo-relevo encontra-se desde 2008, depois de aceso debate, nos campi da antiga e famosa Escola de Desporto da “Jahnallee”, juntamente com um texto explicativo. No lugar da antiga “Paulinerkirche”, está a ser construído um compromisso entre igreja e aula, com o nome de “Universitätskirche St. Pauli”. O projecto deverá estar concluído em 2010.

       A cidade é como um palimpsesto, com vários registos, confirma a Professora Edvania Torres Aguiar, da Universidade de Recife, investigadora convidada de Geografia Humana na Universidade de Leipzig, a trabalhar num novo projecto, “Espaço público na cidade pós-socialista – o caso de Leipzig”. Salienta que Leipzig é protagonista da História da Alemanha porque nasce “de vanguarda”, do cruzamento de caminhos, das trocas comerciais, o que vai dar origem a uma das suas principais referências como cidade das feiras (“Leipziger Messen”). O facto de ser uma cidade livre (“Freistadt”), que não era sede de nenhum imperador, repercute-se na sua cultura e tradição de cidade independente.

       Nem sempre são os habitantes de uma cidade aqueles que melhor conhecem a sua História, por vezes é um olhar de fora que faz a diferença  – ninguém como esta Professora brasileira para contar histórias de cada rua, de cada canto desta cidade, com o entusiasmo de quem a cada dia redescobre e, narrando, recria um espaço.

Ana Maria Delgado
Novembro/Dezembro de 2009

Retomo hoje aqui um texto publicado na PnetLiteratura em 2009

Wednesday, February 5, 2014



Caríssimas amigas e amigos, os problemas técnicos com estes quatro blogues, que desde Abril de 2010 com tanto gosto e carinho tenho vindo a escrever com textos, música e imagens, estão sanados. Tudo vai, por isso, regressar à normalidade por aqui. Os quatro blogues de continuidade que entretanto criei continuarão na blogosfera como suporte e salvaguarda do essencial destes quatro blogues, e como prova de que não passo sem estes posts! Pela primeira vez há uma mensagem comum a todos - sabe tão bem voltar a casa!
 
 
 
 

Monday, February 3, 2014

Caríssimas amigas e amigos, obrigada pela atenção dada ao Blogando ao Sabor da Brisa / Blogging Along With the Breeze ao longo destes quatro últimos anos. Por motivos vários, vou dá-lo por terminado e podem continuar a seguir os textos que me inspiram no blogue Wet Paint Pintado de fresco, que comecei a 1 de Fevereiro de 2014, assinado da mesma maneira, Ana Constança Messeder. A todos um abraço e até lá!

Wednesday, January 1, 2014






O melhor ar da cidade


 
 



“I blow through here… and the music goes round and round… and it comes down here” (Danny Kaye, The Five Pennies)

       Não é nos parques, jardins botânicos ou bosques que se respira o melhor ar de uma cidade, mas sim... numa sala de concertos.  Talvez nem pensemos nisto, quando assistimos a um concerto e nos deleitamos com o sublime dos sons, mas toda essa “fantasmagoria” sonora depende, afinal, também  de coisas bem concretas. Tal como quando conversamos com alguém, e o entendimento depende de tantas coisas complexas como falarmos o mesmo idioma, termos referências culturais comuns, estarmos num momento mais ou menos sociável... Mesmo partilhando códigos de referência a comunicação é difícil e “a linguagem é fonte de mal-entendidos”, como escreveu Saint-Exupéry. Pode então desistir-se da comunicação, mas também o silêncio pode ser eloquente, ou de oiro. Seja como for, quando comunicamos oralmente não são só factores linguísticos e culturais, afectivos ou emocionais que estão em questão na comunicação, mas antes disso todo um processo físico de transmissão do som, sem o qual nem valeria a pena falar de toda a complexidade interpessoal dos processos de comunicação. Na verdade, o som em si nem existe como tal, são antes as ondas sonoras que transportam aos nossos ouvidos vibrações do ar que são captadas e amplificadas 180 vezes pelo nosso aparelho auditivo, até a informação chegar ao cérebro.

       Podia ser aqui ou noutra cidade da Alemanha ou do mundo, mas imaginemos que estamos a fazer uma visita guiada ao Gewandhaus em Leipzig. Não é pela sala grande que começamos, uma sala monumental de 1.900 lugares, a que preside um majestoso órgão de 6.638 tubos, encimado pela máxima que guia a orquestra, uma citação de Séneca, “Res severa (est) verum gaudium”, “A alegria autêntica é uma coisa séria”. Juntamente com esta imagem emblemática, uma outra se nos grava na memória, mais minimalista e pósmoderna, e é por aí que começa uma visita guiada ao Gewandhaus: a dos filtros de ar nas caves do edifício. São compartimentos repletos de maquinaria onde o ar exterior é cuidadosamente filtrado. Os filtros estão muito sujos, o ar atmosférico está muito poluído, apesar dos inúmeros e vastos espaços verdes que a cidade possui, quer no centro, quer em seu redor. Há, no quarto fechado onde estão os filtros, um filtro novo no chão para se poder comparar a sua cor imaculadamente branca com o castanho acinzentado dos filtros que estão em funcionamento. O ar tem de ser filtrado para evitar infiltrações de bactérias no circuito de ar condicionado, obtendo-se por este processo igualmente uma melhor qualidade sonora. Os instrumentos musicais, nomeadamente os pianos, são zelosamente guardados num compartimento fechado onde o ar é rigorosamente medido e regulado, e daí sobem num elevador directamente para a sala de concertos. Os concertistas preferem os pianos de marca Steinway, e são sensíveis à perda de qualidade sonora dos instrumentos após cinco anos de uso. Assim, os instrumentos com mais de cinco anos são vendidos em leilão. A acústica da sala de concertos é outra das grandes preocupações de quem projecta. Embora três engenheiros de acústica tenham trabalhado no projecto da sala grande de concertos do Gewandhaus, só se pode saber o resultado no final, e afirma quem sabe: a acústica de uma sala de concertos é uma pura questão de sorte! A propósito, para quem ainda aqui não esteve, a acústica da sala grande de concertos do terceiro Gewandhaus de Leipzig, concluído em 1981, é perfeita.

Ana Maria Delgado
Outubro de 2009
 
Nota: recuperamos hoje neste blogue um texto que publiquei como colaboradora da PNET Literatura em 2009. Em baixo fica ainda a recordação do momento musical evocado em epígrafe ao texto, do filme musical The Five Pennies (1959), com Danny Kaye e Susan Gordon: