Ouvindo o 1º Prelúdio do Cravo Bem-Temperado de Bach
- à minha mãe, Maria Helena
Dos meus dedos goteja poesia
sinto-a nas veias a latejar
pinga no papel em sangue vermelho
tira sons do azul da minha dor
do branco impuro faz mil farrapos
de improviso cria um arco-íris
mistura as cores, é caleidoscópio,
rapsódia fantástica, é silêncio,
é sinfonia, é som, sem cessar.
Dos meus dedos goteja poesia.
Para ti, queria eu só que fosse
água viva, clara, cristalina,
a correr no papel como da fonte
que mata aquela sede que sentimos
do que é puro, e forte, e necessário.
Tu és aquilo sem o qual
a vida não tem sentido.
És-me necessário, imprescindível,
és a própria escrita sem a qual
a minha não faz sentido.
Sistro, 1979
Imagem: Capa do manuscrito do Cravo Bem-Temperado de J. S. Bach